Senadora paranaense alerta para aumento de discurso fascista e lembrou dos créditos suplementares feitos por FHC e Antonio Anastasia

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) começou seu discurso no Senado Federal lembrando que o Brasil vive sob uma jovem democracia que permitiu ao povo, a partir de 1985, conquistar o direito ao voto e ao primeiro operário e à primeira mulher chegar à presidência da República. 

Ela afirmou, porém, que ultimamente há o crescimento de um discurso fascista na sociedade. “A intolerância fascista cresce, com líderes de direita incitando a violência contra negros, homossexuais, mulheres e outras minorias”, disse.

“Nós não temos a conquista suficiente do exercício da tolerância para deixar no passado o autoritarismo, a ignorância fascista, e, infelizmente, cresce entre nós aqueles que acham que a violência e a força devem prevalecer. Líderes de direita incitam manifestações contra minorias, contra negros, contra homossexuais, contra mulheres, contra os pobres.

 Mas também nós aprendemos, na nossa jovem democracia, a ouvir reivindicações, garantir, conquistar direitos, a ser mais exigentes, inclusive com a própria democracia.”

Para ela, tirar uma presidenta eleita sem crime de responsabilidade pode parecer democrático, mas não é: “Impeachment é um instituto excepcional previsto na Constituição. É como o Estado de defesa, o Estado de sítio. Ele suspende direitos, ele interfere na decisão popular e tem que ser usado apenas em situações excepcionalíssimas.”

E criticou o uso do processo de impeachment para fazer disputa política. “Não é para questionar programas de Governo, não é para discutir o chamado conjunto da obra. Essa discussão e esse debate se fazem num processo eleitoral. Aliás, o Brasil tem eleições a cada dois anos, eleições consensuadas democraticamente.

 Não temos por que, para resolver problemas políticos neste País, lançar mão de um instituto tão excepcional como é o impeachment, disse.

Nunca um decreto suplementar, explica Gleisi, foi usado para impedir o mandato de um chefe do executivo. De acordo com ela, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez 101 decretos suplementares e o relator do processo do impeachment no Senado, Antonio Anastasia, provocou mais de cinco mil decretos quando era governador de Minas Gerais.

“Querem afastar uma Presidenta da República por atrasar seis meses no pagamento de subvenção de juros ao Plano Safra, no Banco do Brasil. Essa ajuda que o Governo dá aos agricultores é regulamentada por uma lei de 1992. 

Não há uma assinatura sequer da Presidenta nesse processo, um ato, um despacho, mas estão usando isso para justificar o crime. É desproporcional.”, acusou. “É como se quiséssemos penalizar com pena de morte uma infração de trânsito’, comparou a senadora.

Hoffmann lembrou dos desvios de poder promovidos pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB): ” Todos aqui lembram das pautas bombas e das declarações que o ex-Presidente da Câmara fazia em relação à Presidenta Dilma, de que era oposição. Todos lembram das manobras que havia para que não se votassem as medidas provisórias, para que as medidas para melhorar a economia não tramitassem na Câmara. Como não dizer, então, que não houve desvio de poder?”

Crise econômica

Para Gleise, a crítica do “conjunto da obra” serviu apenas para justificar o processo e criticou: “Disseram que foram essas intervenções orçamentárias que causaram a crise econômica por que estamos passando. Ora, essa é uma grande deslealdade política!”.

A senadora explicou que a crise econômica brasileira é um reflexo da crise mundial, que ocorre em países como França, Estados Unidos e China, e destacou que no Brasil foram mantidas as proteções aos mais pobres, com todos os programas sociais que ajudaram a proteger a população. “Os países da Europa chegaram a ter índices três vezes maiores do que os do Brasil em termos de desemprego. A nossa inflação e os nossos juros vieram em decorrência exatamente dessa política internacional perversa com a economia”, afirmou.

“Nós conseguimos aqui proteger a nossa população, proteger a nossa população mais pobre. Nós tivemos aqui para enfrentar essa crise o Bolsa Família, o salário mínimo decente, a Previdência que agregou mais de 30 milhões de pessoas nesses últimos 13 anos, programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos e creches, que deram e estão dando sustentação à nossa população para enfrentar essa crise grave pela qual estamos passando”, disse

Papel do PSDB no impeachment

Gleisi também criticou as atitudes do PSDB em favor do impeachment: “Foi o seu filiado, o dito jurista Dr. Miguel Reale Júnior, que apresentou a denúncia, apoiado pela Srª Janaína Paschoal, que recebeu do PSDB recursos para fazer esse parecer. E aqui, no Senado, completou-se o circuito”, disse, referindo-se ao relator da Comissão de Impeachment, Antonio Anastasia (PSDB-MG).

“Eu não tenho dúvidas nenhuma de que esse impeachment não é por crime de responsabilidade. É um impeachment proposto pela direita e pela elite para que seu projeto prevaleça sem submetê-lo ao voto popular, porque, se o submetesse, não teria condições de ser aprovado”, afirmou.

Machismo

Para ela, há um componente de machismo em todo o processo e apontou que houve uma desconstrução da imagem pessoal e política de Presidenta, “sobretudo, na sua condição de mulher, com mentiras, calúnias, difamação, falso moralismo, um desrespeito total pelo fato de ser mulher”.

Por fim, encerrou com uma frase antológica do antropólogo Darcy Ribeiro: “Eu detestaria, não suportaria, estar no lugar de quem me venceu hoje”.

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