O senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) afirmou nesta segunda-feira (16) que o PMDB tem função proeminente no esquema do petrolão e que nomes de políticos do partido ainda vão aparecer na investigações.

O senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) afirmou nesta segunda-feira (16) que o PMDB tem função proeminente no esquema do petrolão e que nomes de políticos do partido ainda vão aparecer na investigações.

Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, Delcídio disse que, quando sair a delação da Andrade Gutierrez, serão "nítidas" as participações no esquema de caciques do partido peemedebista como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o novo ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

Em relação ao presidente interino Michel Temer, Delcídio disse que "não colocaria a mão no fogo" por ele. A declaração foi feita ao ser questionado sobre trecho de sua delação premiada em que diz que Temer endossou a indicação de Jorge Zelada para ser diretor da Petrobras. Zelada foi preso na Lava Jato.

Delcídio disse também que a corrupção na Petrobras se tornou sistêmica a partir do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador cassado afirmou que a corrupção na estatal não começou com o PT, mas que foi com o partido que se "criou um nível mais amplo".

"Desde outros presidentes aconteceram casos de corrupção dentro da Petrobras e de outras companhias", disse Delcídio. "A diferença é que foi aí que começou a haver uma espécie de atuação sistêmica nas diretorias e atuações partidárias, que se criou um nível de operação muito mais amplo, concatenada, com o conhecimento das principais lideranças partidárias que compunham a base do governo federal. Isso é inegável".

O senador cassado afirmou que a presidente afastada Dilma Rousseff e Lula tinham conhecimento do petrolão, mas que o governo subestimou a Lava Jato e que passou a se preocupar com a operação apenas quando "a água estava batendo no pescoço".

"Todo mundo aqui sabe que quem cuida da Petrobras é o presidente da República. O presidente da Petrobras sempre teve ligação direta com o presidente [da República]. Portanto dizer que não conhece e não participou das composições? Tenha paciência. É querer desqualificar ou achar que todo mundo é idiota", afirmou.

Delcídio disse que foi sob o comando de Dilma que negociou a indicação de Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça. O objetivo era conseguir decisões favoráveis a liberação de empreiteiros implicados na Lava Jato.

Sobre a sua prisão, em novembro do ano passado, Delcídio afirmou que, após se tornar líder do governo no Senado, "passou dos limites" e ficou "assoberbado".

O senador cassado pediu desculpas ao público e amenizou o seu crime, dizendo que foi denunciado por obstrução de justiça, e não por "roubo, desvio de dinheiro ou contas no exterior". Delcídio afirmou que errou ao ter cedido à pressão de Dilma e de Lula para tentar interferir nas investigações da Lava Jato.

Apesar de admitir erros, Delcídio negou ter sido beneficiado pessoalmente pelos desvios na Petrobras e disse que "passou a limpo" todas as coisas que diziam sobre ele.

O ex-congressista afirmou que irá tornar público outros detalhes da CPI dos Correios, que investigou o mensalão. Delcídio, no entanto, não revelou quais são as informações que possui.

CASSAÇÃO

Na semana passada, Delcídio teve o mandato de senador cassado por quebra de decoro parlamentar.

O senador foi acusado de formação de organização criminosa e de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato quando tentou tramar a fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso pela investigação do petrolão. Ele foi flagrado em uma conversa com o filho de Cerveró, Bernardo, em que traçava o plano como forma de convencer Cerveró a não contar tudo o que sabia sobre os esquemas de corrupção da estatal em uma delação premiada. O senador também ofereceu ajuda financeira à família.

Delcídio é o terceiro senador a ser cassado na história do Senado. Ele teve o maior placar contrário a ele. Antes foram cassados Luiz Estevão, em 2000, com 52 votos, e Demóstenes Torres, em 2012, com 56 votos. Ele ficará inelegível por oito anos a partir do fim do mandato, que seria em 2019, embora a defesa do senador prometa recorrer.

PMDB, Lava Jato

Deixe o seu comentário